Daniela Mercury e Malu Verçosa celebram as conquistas de 2013
“Qual
foi o seu objetivo, jornalista?”, indaga Daniela Mercury em tom
provocador, olhando de canto de olho para Malu Verçosa. Malu começa a
elaborar uma resposta na tentativa de explicar o que a levou a escrever
um livro contando os detalhes da paixão vivida pelas duas e que terminou
em casamento e causou comoção nacional. Daniela corta: “Ela podia ter
sido repórter de televisão porque é bonita, com uma voz sexy...”. A
jornalista ri, encabulada. “Percebe? Ela faz isso para me deixar sem
graça”, comenta Malu. O papo aconteceu durante a entrevista do casal ao
EGO sobre o livro lançado por Daniela e Malu, “Daniela e Malu — Uma
história de amor” (Editora LeYa). Enquanto discorrem sobre as alegrias e
agruras da exposição da relação – que começou a repercutir no dia 3 de
abril quando o casal decidiu assumir publicamente o namoro através de um
post no Instagram -, Malu joga três saquinhos de sal amarrados por um
alfinete para a cantora: “Toma. O sal da vida”. Daniela solta uma sonora
gargalhada. “É que meus pais têm esse ditado: ‘A gente só conhece uma
pessoa quando come com ela uma saca de sal’. Nosso amor, nossa relação,
nossa convivência. Tudo em nós está sendo testado”, explica a cantora.
Durante a entrevista, a conversa retoma diversas vezes o mesmo tom
desafiador, de brincadeiras e muita cumplicidade. Apesar dos medos que
chegaram a render inúmeras discussões entre as duas, hoje, Daniela e
Malu têm muito a comemorar ao lado das filhas Márcia Vanessa, 15 anos,
Ana Alice, 12, e Ana Isabel, 4, adotadas pela cantora quando ainda era
casada com Marco Scabia. A afinidade de Malu com as meninas é tanta, que
Daniela entrega sentir um certo ciuminho. “Alice escreveu que Malu é a
mãe dos sonhos dela e eu comentei: ‘Malu é a mãe dos seus sonhos, né? Ah
tá, adorei saber disso’”, conta Daniela rindo. Sobre 2013, a jornalista
dispara com bom humor: “Quero férias”. Já a cantora define o período em
que tantas mudanças aconteceram em sua vida como um recomeço: “Foi um
intensivão. Um dos anos mais intensos de toda a minha vida, que valeu ao
ano do ‘Canto da cidade’ (música com que Daniela estourou). Tive até a
sensação de que a vida estava começando de novo”. A seguir, Daniela e
Malu contam como enfrentaram o preconceito e construíram uma nova
família.
Qual
foi o objetivo de vocês quando decidiram escrever o livro? Daniela
Mercury: Se não estivessemos apaixonadas, não iríamos contar história
nenhuma, porque não daria liga. Escrevemos primeiro porque estávamos
apaixonadas, depois porque nós vimos tudo acontecendo (se refere as
manifestações populares em junho deste ano). Ela como jornalista e eu
como militante que sou, acostumada a lidar com as questões humanas,
percebi do meu jeito, com o meu olhar, que estávamos movimentando uma
história importante no Brasil. Protagonizando uma mudança de
comportamento. Vimos que a sociedade reagiu e que o jornalismo resolveu
abraçar essa luta. Foi muito excitante juntar o amor da gente com a
paixão que foi poder servir ao mundo dessa maneira. Aí não tinha como
resistirmos a escrever um livro. O livro conta detalhes do
relacionamento das duas. O que acham das pessoas que criticam vocês pela
superexposição da relação? Daniela Mercury: Acho que uma das grandes
questões foi: 'até que ponto Daniela está querendo manipular a
imprensa?' O que vi nas redes sociais, de um grupo de pessoas, e não
foram poucas, foi 'ah ela está fazendo isso para se promover'. Imagina
se eu não fosse uma artista com 20 anos de carreira, com uma postura que
venho mantendo esse tempo todo? Não é à toa que um artista novo fica
com medo de fazer uma coisa dessas. Como ele não é conhecido, tem medo
de correr o risco e se posicionar. Imagine eu, que com a história de
vida que tenho, ainda acharam isso. Então é lógico que é difícil. Os
artistas já vivem muito julgados e expostos. Parece fácil, a ponto de
que alguém fizesse só para chamar a atenção. Mas quando isso vira uma
realidade... Ficam magoadas com os comentários mais pesados? Sofreram
preconceito depois que se assumiram? Malu: Às vezes, em rede social,
lemos comentários ofensivos, maldosos, mas na internet é tudo muito
fácil. Pessoalmente nunca ouvimos nenhuma agressão nem ouvimos nada no
meio da rua. Eu comecei a ler os comentários até pelo hábito de
jornalista mesmo, mas acabei parando porque vi que é uma bobajada tão
grande... E a Daniela se magoa demais. Então nem deixo ela ler. Como tem
gente desajustada... As pessoas têm que entender que gente é gente,
ninguém é igual a ninguém. Na minha casa teve um ensinamento do meu pai
de vida inteira que é de que as pessoas são diferentes e temos que
respeitá-las como são. Daniela: O que recebemos pessoalmente é o oposto.
Tivemos várias manifestações gostosas e diferentes sobre o assunto,
desde a gente estar correndo na praia e um homem de uns 60 anos virar e
falar: 'Você deu uma sacudida no Brasil! Estava precisando acontecer
alguma coisa'. As coisas mais entusiastas vem dos heterossexuais.
Ouvimos 'muito obrigada' das famílias de pessoas que tem gays e se
sentiram legitimadas.
Como
as meninas lidaram com a notícia da união de vocês? Elas tiveram
dúvidas? Malu: Não. A de 15 anos a gente conversa muito porque começou a
namorar, mas é outra geração. É muito mais natural para eles. Não
tiveram perguntas ou dúvidas. Pelo contrário. Ela é uma espécie de ídola
na escola porque somos corajosas, porque lutamos contra o preconceito.
Os colegas frequentam lá em casa, conversamos com os pais. É tudo
normal. As meninas não sofreram preconceito nenhum. Dos boatos que
inventaram, qual mais incomodou? Malu: A nossa separação. Estávamos
gravando para um programa de TV e eu lembro porque foi no dia em que
pedi demissão. Entre uma coisa e outra saiu que tínhamos nos separado e
por isso eu teria pedido demissão. Também teve a história de que eu
teria feito uma inseminação e vendido as fotos do parto para uma
revista. Fiquei louca com aquilo. A gente tem adolescentes com 12 e 15
anos de idade que leem tudo que sai na internet. Não é justo que elas
cheguem em casa e perguntem: 'Ah vocês resolveram engravidar?'. Isso não
é certo. No dia que saiu a notícia que a gente tinha se separado as
meninas chegaram em casa da escola e falaram: 'É porque saiu na internet
que vocês estavam separadas'. Nós falamos: 'Como que estamos separadas?
Não estamos aqui?'. E vocês pensam em aumentar a família? Malu:
(silêncio seguido de gargalhadas) Penso e não penso em ter mais filhos,
porque já temos três em casa, é muita coisa, e em fases difíceis.
Adoramos criança, mas por enquanto não dá. Por ela eu já teria parido
até, mas como sou uma pessoa que tem juízo... Daniela: Estamos muito
apaixonadas estamos querendo curtir. São muitas mulheres em casa e ainda
ganhei uma cadelinha chamada Preta.
Como
é para elas terem duas mães? Malu: Ninguém impõe a maternidade para
ninguém. A Daniela falou para elas que estava namorando comigo e a
relação se formou naturalmente. Quando estava escrevendo o livro
perguntei para as duas mais velhas se podia dizer que elas eram minhas
filhas e elas agiram com surpresa tipo: “Ô, e não vai dizer?”. Me senti
até meio idiota. Daniela é verdade que você parou de fumar por causa da
Malu? Daniela: Parei e ai de mim se não tivesse parado. Essa mulher é
uma terrorista. O carnaval eu ainda negociei. Mas já sentia o inferno
astral dela apagando tudo que era cigarro, molhando, escondendo com as
crianças. Ela não deixa nada, é um perigo, rigorosa. Me enlouqueceu. Me
dava sermão e eu falava que isso ia atrapalhar a nossa vida. Até ameacei
me separar (risos). Malu: A verdade é que ela me falou que se eu
ficasse com ela, ela parava de fumar. Eu falei para as meninas: 'Quem
catar mais cigarros de mamãe Dan Dan vai ganhar prêmio'. Elas catavam a
casa toda. O que mais vocês mudaram uma pela outra? Daniela: Eu estou
acordando cedo, levando bronca, quem manda em 80% das coisas que eu faço
hoje em dia é ela, perdi grande parte da minha autonomia. Pode botar na
entrevista. Isso eu aliviei no livro. Eu tenho que voltar correndo para
a minha psicanálise (risos). Malu: Eu era jornalista de televisão há 20
anos, não suporto avião, morro de medo, mas agora eu não tenho como
fugir. Não suportava tirar foto. Mas faço tudo por ela. Mudei minha
profissão e mudei meus hábitos. Acordo tarde. Eu pedi demissão porque
não conseguia trabalhar na televisão, escrever o livro, cuidar de três
crianças e pegar três horas de engarrafamento todos os dias. Minha vida
virou do avesso. Foi porque eu quis. Eu ia abrir mão de três crianças,
do livro que era meu sonho, ou da Daniela? Não. Era uma decisão corajosa
que não tomei de uma hora para outra. Passei quase três meses pensando.
A vida da Daniela acontece o tempo inteiro. Não tem essa de sábado e
domingo. Se você está presa numa rotina passa apenas a ler sobre a
pessoa com quem está casada. Não dá. Não me arrependo disso e o livro
foi uma redenção.
Vocês
têm personalidade forte, mas acertam os ponteiros com bom humor. Como
lidam com as diferenças? Daniela Mercury: Nosso amor, nossa relação,
nossa convivência... Tudo em nós está sendo testado. Até o que a gente
gosta de vestir, como faz o cacho do cabelo. Porque com tudo isso
tivemos que fazer muitas atividades juntas e isso nos fez escrever um
livro. Malu largou o trabalho para escrever. Estou convencendo-a a
trabalhar comigo. Nós não somos fáceis, nenhuma das duas. Somos pessoas
muito boas e corretas, mas não somos fáceis em nada, cada dia é um
Instagram (se refere ao momento em que assumiram a relação através da
rede social). Depois de tudo isso, qual o balanço que fazem de 2013?
Malu: Eu quero férias (risos). Daniela: Foi um intensivão. Um dos anos
mais intensos de toda a minha vida, que valeu ao ano do ‘Canto da
cidade’ (música com que Daniela estourou). Tive até a sensação de que a
vida estava começando de novo. Foi um ano de exaustão, de surpresas, de
um casamento que teve uma importância emocional e política dentro de
nós. Porque a gente já se sentia casada, mas teve um peso transformador
tornar tudo isso legal. Teve um impacto enorme para todo mundo. Nossas
empregadas trabalham comigo tem 30 anos e no final vieram nos abraçar,
dizer que estavam emocionadas com a nossa relação e passaram a tratá-la
de outra maneira dentro de casa. Legitimou o papel dela. Para os nossos
parentes, por mais que eles estivesse tranquilos, todo mundo teve que se
acostumar com uma novidade. Não foi uma coisa simples. Todos têm
cultura, capacidade de aceitar o mundo e a diversidade, mas de qualquer
jeito é uma realidade diferente que precisava ser absorvida
emocionalmente. O casamento civil foi de uma importância tamanha, porque
para as crianças é água, mas para os adultos é pedra para engolir. E
que só dá para engolir com muito amor, vendo a gente feliz.
( Do ego.com )
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