Renato Onofre / O GLOBO
O primeiro prefeito de capital eleito pelo PSOL, Clécio Luís, em
Macapá, diz que quer diálogo com o senador José Sarney (PMDB) e elogia a
adesão do DEM e do PSDB à sua candidatura no segundo turno. O
posicionamento enfrenta críticas na legenda que nasceu do
descontentamento de petistas às políticas de aliança adotadas no
primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Clécio
afirma que a hora é de pensar o papel do PSOL na construção política
nacional e diz que não há antagonismo em estar próximo a desafetos
nacionais da legenda.
- Essa experiência vai levar o PSOL a fazer reflexões. Vai forçar o
partido a refletir sobre si mesmo. O que temos que aprender é que as
diferenças regionais devem ser compreendidas pelo partido e respeitadas.
Aqui, no Macapá, funcionamos diferentemente do que em São Paulo e Rio -
defende Clécio.
Para ele, é natural manter relação institucional com o presidente do
Senado, José Sarney, senador pelo Amapá: - Não é o militante Clécio que
está procurando o cacique José Sarney. É o prefeito que vai procurar a
base parlamentar eleita pelo povo de Macapá para pedir ajuda. Para que
eles cumpram seu papel institucional. Não podemos abrir mão da ajuda de
ninguém. Então é necessário que a gente abra esse dialogo institucional
republicano - justifica.
Foi por discordar de votar em Sarney para a presidência do Senado, em
2003, que a ex-senadora Heloisa Helena entrou em rota de colisão com a
direção nacional do PT, o que levou à sua expulsão e à criação do PSOL
no ano seguinte. Na época, em repúdio, a ex-deputada federal Luciana
Genro desabafou em uma reunião do diretório nacional petista: "O
diretório nacional tem vergonha da história do Partido dos
Trabalhadores, tem vergonha dos discursos inflamados que fez o
companheiro Lula, atacando aquele que hoje é presidente do Senado com
apoio do Partido dos Trabalhadores, senador José Sarney". Ela também
sairia do PT.
O atual racha no PSOL veio à tona depois que a própria Luciana e outros
33 dirigentes do partido classificaram a aliança com o DEM em Macapá
como "agressão" ao partido. "Se esta aliança se mantiver, representará
uma mancha que envergonhará e indignará todo o PSOL", disseram em nota.
O presidente nacional da legenda, Ivan Valente, minimizou a polêmica ao
tratar o assunto como adesão e não aliança. Clécio fez questão de
afirmar que não foram negociados espaços em seu governo.
O deputado federal Chico Alencar vê, na discussão, uma oportunidade
para não cometer os erros do PT: - A gente tem que escrever uma nova
gramática no exercício do poder. Essa fato é inédito, e vamos ter que
discutir internamente como ele deve ser conduzido. O que não podemos é
seguir as práticas que o PT assumiu e que levaram aos mensalões da vida.
São as dores do crescimento.
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