Mais de 150 lideranças evangélicas assinam documento pedindo a saída
de Marco Feliciano da presidência da CDHM. Pastor da Igreja Batista desabafa: “ele não representa os direitos humanos e a minoria”
A nomeação do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados
continua rendendo críticas pelo Brasil. Na última terça-feira, mais de
150 lideranças evangélicas pediram a substituição do pastor por um
parlamentar mais “familiarizado” com o tema. A petição que pede a saída
do pastor da CDH já conta com quase 500 mil assinaturas (se ainda não
assinou, assine aqui)
A Rede Fale pede aos deputados evangélicos da comissão – que, segundo
o coletivo, são 12 dos 18 membros – que indiquem um novo nome.
“Entendemos que este momento representa uma oportunidade concreta para a
promoção e a defesa dos direitos dos mais vulneráveis e das minorias”,
informou em nota.
No domingo, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic),
que integra as igrejas Católica Apostólica Romana, Episcopal Anglicana
do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Sirian Ortodoxa
de Antioquia e Presbiteriana Unida, também divulgou nota de repúdio à
eleição de Feliciano.
Entre os signatários do novo documento, estão pastores de igrejas
como a Presbiteriana, a Batista e a Assembleia de Deus, da qual o
deputado paulista faz parte. Assinam a nota, entre outros, o pastor
Antonio Carlos Costa, do Rio de Paz; o bispo primaz da Igreja Anglicana
Mauricio Andrade; e o pastor batista Ariovaldo Ramos, presidente da
Visão Mundial.
A Rede Fale é composta por 12 organizações evangélicas e 33 grupos
locais, de 17 estados brasileiros. Segundo os coordenadores do
movimento, trata-se de uma rede de orientação cristã que busca, há mais
de dez anos, unir indivíduos e organizações para orar e agir contra as
injustiças sociais.
Em entrevista à revista Fórum,
o pastor da Igreja Batista Marcos Dornel teceu críticas ao parlamentar e
pediu como representante “alguém que tenha histórico de luta com
direitos humanos, que conheça o que foi a tortura no Brasil, saiba o que
é trabalho escarvo, entenda que existe tráfico de pessoas, enfim, que
tenha lutado por pautas da área de direitos humanos.”
Como o senhor viu a eleição de Marco Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados?
Marcos Dornel – Foi uma forçada de barra, tinha que colocar alguém do
PSC e acharam o pior nome. Fizeram uma reunião entre os evangélicos do
partido, e o nome mais forte era o dele. Não vejo com bons olhos essa
nomeação, as polêmicas causadas por ele nos prejudicaram. Estamos
colocando em xeque, por causa de um cara que não tem histórico de luta
pelos direitos humanos, toda uma nação, que é a nação evangélica.
A minha vocação para ser pastor me mostra que tenho que olhar para as
minorias, e Feliciano é midiático e alegórico, muito vaidoso, faz até
chapinha no cabelo. Deveria cuidar do rebanho e menos da política.
Segundo Feliciano, uma “maldição recai sobre a África”. Em sua interpretação da Bíblia, como o senhor vê essa afirmação?
Marcos Dornel – Nós, teólogos, estamos nos revirando, porque em
nenhum momento na Bíblia Deus joga uma maldição sobre uma raça ou um
povo. Essa frase foi uma infelicidade do Feliciano. A própria palavra
diz que todo aquele que crê em Deus é abençoado. A Bíblia diz que tudo
que Deus criou é bom, então, se tudo é bom, todas as raças são boas.
Você dizer que uma raça é amaldiçoada é uma besteira. Ele foi infeliz.
Mais de 150 lideranças assinaram uma carta de repúdio ao Feliciano, o senhor concorda?
Marcos Dornel – Eu me incluo nessa faixa de rejeição ao nome dele
como presidente, nós estamos repudiando esse cara. A comissão deve ser
presidida por alguém com histórico de luta pelos direitos humanos, que
conheça o que foi a tortura no Brasil, saiba o que é trabalho escravo,
entenda que existe tráfico de pessoas, enfim, que tenha lutado por
pautas da área de direitos humanos. Não sou contra porque ele é um líder
religioso, mas sim porque ele não tem qualquer experiência no assunto.
Marco Feliciano não representa as minorias. Aliás, se existe uma
diferença entre elite e pobres na igreja, o Feliciano representa essa
elite.
Há, no discurso do Marco Feliciano, uma deturpação dos valores da Bíblia?
Marcos Dornel – Olho para o Felicano e vejo um pastor que só prega
sobre prosperidade. Jesus ensinou para nós que mais importante é ser, o
Marco prega que devemos ter. Pregamos uma igreja que reparte, a igreja
do comum, é a igreja que Jesus diz: “Se você tem dois quilos de arroz,
dê um a quem não tem”, é uma igreja que está ao lado das minorias. Os
direitos humanos não tem que defender o pobre por ele se pobre, mas sim
por ele ter dignidade humana, é isso que a Bíblia prega. Um cara que
prega que só é próspero quem tem casa na praia, tem o carro do ano, isso
não é direitos humanos, isso é direito de quem tem.
O senhor acredita que esse fato possa estimular o preconceito contra os evangélicos?
Marcos Dornel – Nunca tivemos a oportunidade de debate nesse país,
podemos, hoje, mostrar o que Cristo nos pregou. Agora, com esse cidadão
na presidência, tudo pode se voltar para trás, porque todo o trabalho de
igrejas evangélicas vai por água baixo. Estamos vendo uma mini-guerra
religiosa no meio das igreja evangélicas, já estamos desgastados por
conta desses pastores midiáticos. Ressalto, não é por ele ser
evangélico, mas é que ele não representa os direitos humanos e as
minorias.
–
Geledés
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