O senador Randolfe Rodrigues. A articulação feita por ele no Amapá
provocou insatisfação dentro do PSOL. Foto: Fabio Rodrigues
Pozzebom
No último domingo de outubro ,o PSOL ganhou a sua primeira prefeitura
em uma capital. Venceu por uma estreita margem de 2,369 mil votos no
segundo turno em Macapá. Para conseguir o cargo, o prefeito eleito
Clécio Luís subiu ao palanque com parte do DEM. Também declarou apoio a
Marcus Alexandre, candidato petista à prefeitura de Rio Branco. Depois,
disse querer o diálogo com José Sarney (PMDB), senador pelo Amapá. Todas
foram atitudes inesperadas para um partido cuja atuação parlamentar
como oposição sempre foi marcada pelas críticas a práticas corriqueiras
da política brasileira e também ao PT, partido do qual o PSOL se
originou.
A postura de Clécio gerou críticas dentro do PSOL. Diante disso, o
prefeito eleito e o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) divulgaram uma
carta nesta quinta-feira 1º endereçada à militância do PSOL. Eles
justificam os apoios recebidos pela necessidade de “uma engenharia
política que (…) neutralizasse e fracionasse uma provável coalizão
conservadora em torno do atual prefeito [Roberto Góes (PDT)]”.
A carta traz desculpas à direção do partido, que não foi consultada
sobre os apoios, mas lamenta parte das críticas recebidas. “Admitimos
que a nossa engenharia política pudesse ter sido mais bem construída
internamente ao partido, dialogando com nossas instâncias nacionais e
ouvindo ponderações, fato que gerou dúvidas sinceras e também ataques
desleais, alguns dos quais foram ostensivamente utilizados pelo nosso
adversário”.
Os dois líderes do partido ainda justificam o apoio ao PT na capital do
Acre. “Aproveitamos para esclarecer que consideramos um erro ter
declarado apoio ao candidato do PT em Rio Branco sem ter antes
conversado com nossa direção local. Esta postura foi motivada pela
necessidade de vencer o crime organizado naquele estado e pela
repercussão positiva que este gesto teria nos possíveis apoios do PT em
Macapá e em Belém”.
Sarney não é citado na carta. Segundo Randolfe, o apoio dele nunca seria
buscado. Tudo, disse o senador a CartaCapital, não passou de um
“exercício de manchete do criativo jornalismo brasileiro”. Clécio vai à
Brasília na próxima semana e deve ser recebido pelo presidente do
Senado. “Não vamos procurar Sarney para mudarmos de credo, mas
precisamos dialogar com o governo”, diz o senador.
PSOL discute o assunto na próxima semana
A direção nacional do PSOL deve se reunir e discutir esses assuntos na
próxima semana, quando será feito um balanço das eleições municipais. A
expectativa é de que seja feita uma crítica às alianças no Amapá, mas
sem nenhuma punição aos integrantes.
Para a ex-deputada federal Luciana Genro (RS), o partido deve, agora,
olhar para frente e ter certeza que alianças com partidos de direita não
sejam feitas em seu governo. “Nós temos que ser um aprimoramento, e não
uma repetição farsesca das administrações do PT”, disse a deputada.
“Uma coisa é receber um apoio e falar: ‘muito obrigada, agora nós vamos
governar’. Outra é apresentar aliados de ocasião como estratégicos, que é
o que aconteceu em Macapá”, diz Genro. “Um governo do PSOL não pode
ficar refém dessa lógica que nós sempre criticamos em relação ao governo
petista. Muitas vezes eles não se apoiavam na mobilização popular e
tinham propostas contrárias ao povo, como no caso da reforma da
previdência, quando fomos expulsos do PT.”
O senador Randolfe diz que Clécio não deve fazer nenhuma concessão
programática na prefeitura, mas aceitaria o apoio de quem estiver
disposto a se adequar aos seus princípios. “Se alguém apoia um governo
de esquerda é porque se converteu ao nosso programa. Não há luta de
classes quando a burguesia apoia as reivindicações do proletariado. Aí a
burguesia deixa de ser burguesia.”
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