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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Vítimas de escalpelamento opinam sobre mutirão de cirurgias reparadoras

A assinatura do Termo de Cooperação Técnica entre o Governo do Amapá e a Defensoria Pública da União, ocorrida nesta sexta-feira, 24, no Palácio do Setentrião, para a realização do I Mutirão de Cirurgias Reparadoras em Vítimas de Escalpelamento, motivou ainda mais as pessoas que hoje ainda enfrentam preconceito por conta das sequelas físicas que o acidente por embarcação deixa nas vítimas.
Na opinião da servidora pública Tereza Duarte dos Santos, 23 anos, vítima de escalpelamento no interior do Pará há seis anos, o momento que as vítimas vivem hoje é histórico. Para ela, a iniciativa dos Governos Federal e Estadual e da Associação de Mulheres Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia (AMRVEA) em viabilizar o mutirão é excepcional. Tereza diz que cerca de 80% das vítimas de escalpelamento estão fora do mercado de trabalho por puro preconceito da sociedade. “Hoje, graças a Deus tenho meu emprego no Estado e estou cursando o 4º semestre de pedagogia”.
Para a jovem Maria de Andrade do Carmo, 19 anos, que sofreu escalpelamento aos dez anos de idade, em Breves (PA), receber a avaliação médica de cirurgiões plásticos renomados no país, enche de esperança a vida dessas pessoas. “Agradeço primeiro a Deus, depois a todas as pessoas que estão empenhadas em nos ajudar”.
O pescador Luis Eduardo Freitas Gonçalves, 36 anos, também foi vítima. O acidente ocorreu na comunidade de São Sebastião da Boa Vista (PA), quando ele tinha três anos de idade e usava cabelos longos. Eduardo diz que passado 33 anos do acidente, ainda sofre muito preconceito. Ele também está otimista com o anúncio do mutirão de cirurgias reparadoras no Estado.
A vice-presidente da Associação de Mulheres Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia, Franciane da Silva Campos, 33 anos, diz que a realização do mutirão representa o resgate da dignidade e da autoestima de muita gente. Ela enalteceu a iniciativa do governo do Estado em antecipar as ações de saúde em prol das vítimas de escalpelamento. Franciane tinha cinco anos de idade quando foi vítima do acidente, no Rio Limão, em Serra do Navio.
Enquanto que a presidente da Associação de Mulheres Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia, Rosinete Rodrigues Serrão, uma das principais entusiastas do movimento pela erradicação do escalpelamento no Amapá, avaliou que o esforço conjunto de gestores, políticos e das próprias vítimas de escalpelamento foi decisivo para que a assinatura do Termo de Cooperação Técnica ocorresse com maior brevidade.
Rosinete Serrão entende que, além de melhorar a aparência estética das vítimas de escalpelamento, a mobilização em torno do assunto vai gerar melhor qualidade de vida para essas pessoas. A presidente diz que hoje dezenas de vítimas, a maioria mulheres, sofrem todo tipo de preconceito e discriminação por causa das sequelas que o escalpelamento causa no couro cabeludo e na face das pessoas.
Rosinete contou que tinha 20 anos de idade quando foi vítima de escalpelamento. O acidente aconteceu em Breves (PA), onde ela lecionava alfabetização para crianças. A presidente ressaltou que, após o acidente, entrou em depressão e optou por se isolar de todos, inclusive de sua própria família. “Pensei em suicídio por várias vezes, mas nunca tive coragem de enfiar uma faca em mim. Hoje, minha visão quanto o que aconteceu comigo é bem diferente”.
A jovem Marcilene Mendes Rodrigues, 23 anos, se envolveu no acidente quando tinha 10 anos de idade. Ela citou que logo no início, em toda sua adolescência, sofreu muita discriminação por parte dos colegas da escola. Na época do acidente, ela morava na comunidade Rio Furta Fênix, na Ilha do Pará.
Presente na solenidade de assinatura do Termo de Cooperação Técnica entre o governo do Estado e a Defensoria Pública da União, Marcilene também aposta na maturidade em que o atual governo estadual vem tratando o assunto escalpelamento, pauta que para ela ficou esquecida pela gestão que antecedeu o governo de Camilo Capiberibe.

Edy Wilson/Sesa

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