“Leves como penas pousando no chão”. Era assim que Oscar Niemeyer
gostava de se referir às colunas do Palácio do Planalto, uma de suas
obras-primas projetadas para Brasília. Nesta quinta-feira, 06, a criação
e o criador voltaram a se encontrar, quando o caixão com o corpo do
arquiteto subiu a rampa do palácio e foi colocado no salão nobre, após
ser carregado por oito cadetes da Polícia Militar do Distrito Federal. O
gênio recebia sua homenagem final da cidade que ajudou a inventar.
Um avião cedido pela Presidência da República transportou 16 pessoas
da família e o corpo do arquiteto. Dilma esperou o caixão ao lado da
viúva de Niemeyer, Dona Vera – assim que soube da morte do artista, a
presidente entrou em contato com a família, prestou condolências e
colocou o Palácio do Planalto à disposição para o velório.
A cerimônia foi acompanhada pelos presidentes do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Barbosa; do Senado, José Sarney (PMDB-AP); e da Câmara,
Marco Maia (PT-RS). Pelo menos uma dúzia de ministros – do chanceler
Antonio Patriota ao onipresente Aloizio Mercadante – e o vice-presidente
Michel Temer também prestigiaram a homenagem a Oscar Niemeyer.
“O sofrimento das pessoas simples fez com que ele passasse a ser a
pessoa que ele é”, disse a jornalistas uma emocionada Ana Lúcia, uma das
netas de Niemeyer. Qual o legado de Niemeyer? A Catedral de Brasília? O
Sambódromo do Rio? “Mais que a obra, acho que os conceitos, as ideias, a
solidariedade dele, a preocupação com a justiça social”, afirmou.
O arquiteto Paulo Sérgio Niemeyer, por sua vez, disse que vai ser empenhar em levar adiante os projetos inacabados do bisavô.
Ao todo, 44 coroas de flores foram dispostas no salão – de Marisa
Letícia e Lula, do governo da Bolívia, de Fidel Castro, da Ambev, do PC
do B (uma homenagem ao “grande camarada comunista”) e até do Comando da
Aeronáutica.
Para o estudante Hudson Oliveira, uma das muitas pessoas que ficaram
duas horas na fila debaixo do sol brasiliense até conseguir chegar ao
Planalto, Oscar Niemeyer ainda vive. “Brasília é Oscar Niemeyer, é
Juscelino Kubitschek. Niemeyer planejou sua arte e quer honra maior do
que ser homenageado justamente por ela?”, comentou.
Havia de tudo na fila que ziguezagueava na Praça dos Três Poderes:
estudantes de arquitetura, estrangeiros de passagem por Brasília,
pioneiros da construção da capital, militantes do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), moradores e protestantes que
denunciaram o “abandono” da cidade pelo poder público.
Discreta, Dilma não abriu a boca para falar a jornalistas sobre
Niemeyer em momento algum – nem no velório, nem no evento que o
antecedeu, uma cerimônia de anúncio de investimento em portos, também
realizada no Planalto. Nas duas ocasiões, no entanto, foram feitos um
minuto de silêncio- a Presidência decretou luto de sete dias.
Para o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, as ligações
de Brasília com Oscar Niemeyer são de pai para filho. Quando retorna às
lembranças com o mestre das curvas, Roriz se recorda de um dia em
especial – quando foi mostrar pra Niemeyer o projeto da Ponte JK.
“Quando mostrei pra ele a Ponte JK, que hoje é um símbolo da cidade,
ele passou a vista e não quis olhar. Ele não deu a menor importância. O
que ele gosta ele fala, o que ele não gosta ele faz pouco caso”, disse.
Nesse caso, difícil não dar razão ao arquiteto.
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Rafael Moraes Moura e Tânia Monteiro/ BRASÍLIA – O Estado de S.Paulo
Fotos: EVARISTO SA/ PEDRO LADEIRA/ AFP PHOTO
Rafael Moraes Moura e Tânia Monteiro/ BRASÍLIA – O Estado de S.Paulo
Fotos: EVARISTO SA/ PEDRO LADEIRA/ AFP PHOTO
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